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Pequenas Observaç?es sobre Coisas sem Importância

     

segunda-feira, março 31, 2003

 
Sonho

Cheguei na casa da Malu, em Botafogo, pra passar o fim de semana. Não sei porque alguém sai de casa para passar um fim de semana em Botafogo ao invés de, sei lá, em Búzios. Mas, enfim, eu fui. Chegando lá, fui apresentada para milhões de pessoas que não conhecia e, entre elas, uma mulher que cuidava mental e espiritualmente do grupo. Essa mulher me levou para uma espécie de pirâmide, onde nós entramos. O lugar não tinha janelas, e toda a iluminação era feita por tochas. Nas paredes de pedra estavam pendurados quadros abstratos muito coloridos. A cor das paredes era amarela.

A mulher me deu um chá e pediu que eu esperasse um instante em uma das câmaras da pirâmide. Ela apagou as tochas uma a uma, até que o lugar foi tomado por um breu total. Aquilo me deu um pouco de medo. Mas depois lembrei que quem tinha me posto em contato com a tal mulher tinha sido minha amiga e camarada Malu, o que me deu um certo alívio. Imaginei que aquela história era do bem, e me deixei levar.
Do teto desceram tiras de palha trançada que envolveram meus braços e pernas como a planta carnívora de "a Pequena Loja dos Horrores". Mas tudo era delicado. Eu me deixei envolver, e fui puxada pra cima, até uma espécie de ninho. Os braços de palha me colocaram com o rosto virado para o fundo do ninho, de encontro a gravetos que eram absolutamente macios. Eu fechei os olhos.

Quando vi, estava voando por cima do Times Square. Sobrevoando todas aquelas luzes e turistas. Ninguém me via. Eu voava livre, nadava no céu do centro de Manhattan, quando tive o brilhante insight de que o que estava rolando comigo era uma viagem fora do corpo.
Depois que descobri isso, passei a atravessar paredes: entrava em shows da Broadway, cinemas, jogos de basquete da NBA (que não ocorrem, em hipótese alguma, no Times Square). Passava por camadas de concreto e pedras e tijolo e planava por cima das cabeças dos espectadores. Tudo isso rápido, entrando e saindo, por cima e por baixo. Eu estava testando minhas novas habilidades. Até que bateu um cansaço, mas um cansaço tão grande que me fez ficar um pouco desesperada. Como eu ia voltar para o meu corpo? Como eu conseguiria sair daquela viagem? O vôo ficou lento, e eu sentia medo. E então eu me vi gritando na cama da casa da Malu.

Várias pessoas estavam dormindo no micro apartamento dela naquele dia. Quando eu comecei a gritar no meio da madrugada, as pessoas na casa foram acordando como se nada tivesse acontecido: umas pegaram jogos de tabuleiro, outras tomavam milk shake e outras, ainda, conversavam animadamente sobre um assunto qualquer. Eu olhava pra tudo aquilo incrédula, quando a Malu se aproximou de mim. “E aí”, ela disse, “gostou da experiência?” Eu respondi: “Aquilo é demais; inacreditável.” Então ela sorriu toda marota: “Eu sabia que você ia gostar, por isso que eu mandei você pra lá.” E, logo após essa fala, eu acordei.


sexta-feira, março 28, 2003

 
Fernando
Da série: histórias verídicas

Eu também me apaixonei por Fernando quando o conheci. Fernando é o tipo de cara que tem uma legião de adoradores – homens e mulheres de todas as idades e estilos que simplesmente não conseguem resistir a ele. É que quando você conhece o Fernando, ele olha pra você nos olhos e lhe mostra um sorriso largo, enquanto diz “Oi”. Ele faz com que você se sinta único. Quando diz “oi”, Fernando compartilha um pouco da luz dele com você. E você se sente muito grato por isso.

Acontece que Fernando é portador do HIV. Não se sabe se foi por isso que ele adquiriu esse desprendimento em relação a pessoas e objetos. Ele não se importa com nada. Cultiva os amigos enquanto eles estão por perto. Se os amigos se afastam, ele fica olhando de longe, com um sorriso nos lábios. Fernando não tenta mantê-los. Ele não sente saudades, e consegue passar meses morando na rua e catando comida no lixo. Vira e desvira mendigo com a facilidade que só quem não leva o mundo a sério consegue.

Quando sua amiga Lucia foi visitá-lo, Fernando não tomava seu coquetel há mais de um ano. Ele andava cercado por todo tipo de escória: traficantes, outros vagabundos, michês. Mas ele ficava na dele, e foi assim que conheceu um menino e começou a namorar. O garoto era um riquinho sustentado pela mãe, e os dois resolveram ir para a Alemanha, tudo bancado pela nova sogra de Fernando. Não deu certo durante muito tempo, então os dois voltaram pra Portugal e resolveram abrir uma grife.

Agora Fernando remexe em latas de lixo de novo, só que à procura de trapos velhos pra fazer roupas hypes. Em breve ele estará de volta ao Brasil, onde se tornará o novo queridinho do mundo do Caderno Ela. Enquanto isso, trabalha como voluntário em uma associação para aidéticos, que banca pra ele moradia e comida. Não tem jeito, ninguém resiste a Fernando.


quinta-feira, março 27, 2003

 
Ai, meu deus, como eu trabalho nessa vida.
Por que que eu não nasci no Canadá?
Pelo menos aí eu parava de trabalhar antes dos quarenta...
Ó vida, Ó azar.

Não tenho nem tempo de postar textos....

terça-feira, março 25, 2003

 
A derrota é existencialista

Em minha vasta experiência futebolística – apenas um jogo assistido no Maracanã, onde o Fluminense derrotou o São Caetano por 3 x 0 – eu cheguei na final do Campeonato Carioca com a certeza de ver o meu time campeão. Estava tão absolutamente cheia de mim que comprei uma faixa “Fluminense – Bicampeão Carioca 2003” antes do jogo começar. Tudo era alegria e eu, bendito fruto no meio daquele poço de testosterona que é o maior estádio do mundo, agüentava as piadas masculinas de igual pra igual. Por que não? Eu sou tricolor, era uma das poucas mulheres no local e o meu clube estava prestes a ser o vencedor.

Subimos para a arquibancada e, minutos antes do jogo, o nervosismo foi tomando conta do entusiasmo. À nossa frente, a torcida do Vasco gritava ensandecida, muito maior que a nossa. Não tinha problema: a gente gritava mais alto. O juiz entrou em campo, os jogadores logo depois e a partida finalmente foi iniciada.

Só que... foi gol do Vasco. De repente se abateu sobre a nossa arquibancada um silêncio aterrador. Eu olhava, incrédula, a festa da outra torcida. E nós ainda não havíamos passado dos cinco minutos do primeiro tempo. Por um momento todos nós ficamos imóveis, paralisados, sem esperança. Até que um cara, lááááá na frente, levantou e ergueu os braços, chamando o resto do povo a gritar “Nense”. Reunindo forças não sei de onde, eu gritei. Gritei mais. E Mais ainda. Até que o Fluminense fez gol e o primeiro tempo terminou 1x1.

Ai meu Deus, o intervalo foram quinze minutos de cigarros seguidos, filados, acendidos um no outro. Eu não havia almoçado e bebia cerveja porque naquele dia eu era como eles – os torcedores/testosterona – e o meu time ia ser campeão.

Só que o segundo tempo também não foi do Fluminense. O Vasco marcou outro gol, e eu catei minhas coisas e deixei o Maraca. Na porta, tricolores aguardavam o resultado final da partida. Um estava ajoelhado no chão. Coitadinho, eu pensei, não adianta mais. Era o fim.

Voltei andando até o meu carro, que estava estacionado a uns três quilômetros do Maracanã. Na ida, eu havia feito esse percurso tranqüila, rindo, leve como uma pluma. Agora carregava a cruz do vice-campeonato sobre os ombros. Pensava como eu era uma criatura infeliz: ganhava mal, no meu trabalho ninguém me dava o devido valor, não tinha dinheiro para fazer metade das coisas que queria, não tinha marido-namorado-pretendente-paquera e, ainda por cima, o meu time não era campeão.

Se a alegria de ver seu clube vencer uma partida de futebol é inocente, puramente feliz e sem grandes conseqüências, amargar a derrota de um campeonato gera uma tristeza existencial. Naqueles três quilômetros percorridos do estádio até o meu carro, toda a minha vida foi reavaliada: decisões foram tomadas em silêncio e julgamentos foram feitos internamente.

Quem acredita que aquele jogo era apenas a decisão de um campeonato estadual, provavelmente não sabe que a tristeza de uma derrota é muito maior que a alegria de uma partida vencida. A melancolia de ver o placar a favor do outro time leva à reflexão da alma. Milhares de torcedores em todo mundo talvez tenham comprovado inconscientemente que o futebol engrandece o homem – muito mais que o trabalho, inclusive. Fica aí a sugestão para chefes e líderes espirituais: vamos substituir dias de labuta inconsistente por dramáticas partidas no Maraca.


sexta-feira, março 21, 2003

 
Os nomes

João me disse que a melancolia é necessária pro processo criativo. Depois comentou que passava por um bloqueio literário e que tinha terminado com a namorada.
Felipe foi meu primeiro beijo, minha primeira paixão e meu primeiro coração partido. Mas um dia ele me convidou pra sair, eu disse que não, e nós nunca mais nos falamos.
André me disse que eu era especial e eu acreditei.
Fernando era inteligente, charmoso e novinho. Pegou meu telefone e nunca ligou.
Márcio diz que nunca deixou de me amar.
Dé nutriu durante toda a adolescência uma paixão platônica por mim que só passou quando ele arrumou uma namorada de verdade e fez sexo.
Daniel conversou comigo a festa inteira, disse que fazia mergulho e montanhismo quando era mais jovem, mas que hoje em dia gastava muito dinheiro com escatsy. E nós não ficamos juntos porque ele tinha um caso com a aniversariante.
Mário é casado e solta piadinhas toda vez que a mulher não está por perto.
Gabriel fala pra todo mundo que é bissexual, mas desconfio que a sexualidade dele pese mais para homo.
Eu gostei do Du, e acho que ele também gostou de mim. Ainda não sei o que aconteceu...
Eduardo nunca sentiu um pingo de interesse por mim.

E eu? Eu sento no divã, e fico observando, observando...
 
Drummond

O 1o. amor passou
O 2o. amor passou
O 3o. amor passou
Mas o coração continua o mesmo.

quarta-feira, março 12, 2003

 
Jorge Ben

Anabela gorda, diz aí menina
O que que você quer ser quando crescer?
"Eu quero ser dona de casa atuante
ou mulher de milionário."
 
Essas coisas só acontecem comigo

Saca só o email que eu recebi. Só pra deixar claro, eu não mandei nenhum email confissão, e nem sabia que existia esse serviço de Padre On Line! hehehe quem sabe agora a minha alma fica menos atormentada?

From: Padro Online
To:
Subject: Padre Online

Prezada Bruna,

Gostaria de esclarecer que não se trata de uma confissão esta nossa conversa, porque a confissão não é possível por e-mail. Contudo, creio que você deve superar essa timidez e procurar logo um padre para se confessar, pois você cometeu uma falta grave, o que está com certeza prejudicando muito você, espiritualmente. O sexo deve ser reservado para a intimidade do casal unido em matrimônio, e você deve evitar com veemência qualquer ocasião de tornar a cair nessa tentação. Ao que parece, é melhor afastar-se de seu primo pois, pelo que você dá a entender, ele só queria o que já conseguiu. Nâo se deixe abater, nem se surpreenda com as próprias fraquezas. Confie em Cristo, que conhece muito bem a nossa natureza frágil, arrependa-se e reconcilie-se com Deus pela confissão. Você reencontrará assim sua paz e poderá passar uma borracha nisso tudo.
Fico ao dispor se desejar conversar mais.
Atenciosamente,
dFelix
---

Fiquei surpresa com a possibilidade de comungar sem precisar me expor pessoalmente. Já me confessei algumas vezes mas, dessa vez, a timidez falou mais alto. Estudei em colégios religiosos em Minas e no Rio. Mas há dois anos, desde que terminei o colegial, nunca mais me confessei. Acontece que quebrei minha promessa de casar virgem há seis meses. Foi com meu primo, consanguíneo. Aconteceu porque ele, desde que nos mudamos para o Rio, há quatro anos, tentava me namorar. Nunca tinha sentido atração por ele. Mas no dia do aniversário dele, que foi em uma casa de festas, ele me deu um beijo na varanda e me apaixonei. Dois meses depois nós nos amamos e desde então não consigo pensar em outra coisa. Mas percebo que ele quer se livrar de mim. Jamais tomei qualquer precaução. Tenho medo de engravidar e vergonha dos meus pais. Estou me sentindo triste e só. O que eu faço? me ajude por favor!!!!

Bruna - brunapaixao@hotmail.com


terça-feira, março 11, 2003

 
Quintana

Eu hoje - que desfecho! -
já não penso mais em ti.
Mas será que nunca deixo
de lembrar que te esqueci?

segunda-feira, março 10, 2003

 
Eu sou Buda

Tenho que confessar uma coisa: às vezes a calma se apossa de mim. Eu devo ser Buda e ainda não descobri. Fico dizendo por aí que sou complicada e incompreensível mas, mais uma vez, é mentira: eu sou Buda. A calma se apossou de mim no sábado e eu liguei o rádio e fiquei cantando músicas que não ouço há alguns anos, porque não ligo mais o rádio pra nada. Agora ligo o rádio porque meu toca fitas está sujo e eu não consigo ficar sem música no carro. E eu estava calma. Até cantei. Comprei tinta de cabelo nas Lojas Americanas. Encontrei uma amiga que não via há tempos. Conversei. E chega. “Se eu soubesse que era tão fácil...”

Ser Buda tem muitas vantagens. Por exemplo: você não grita quando leva fechada no trânsito. Isso, inegavelmente, é uma vantagem. Ainda mais pra mim, estressadinha da Estrela, que costumo (costumava) xingar que nem homem os outros homens, pra eles verem com quem estão lidando. Eu xingava, buzinava e depois ficava colando na traseira do carro que me deu a fechada só pro cara ver que eu sou macho. Mas isso tudo é passado, agora eu abro passagem pra quem quiser me fechar. Vai nessa e seja feliz.

Outra coisa: Buda não se incomoda no trabalho. Não, de jeitíssimo nenhum. Que caia o mundo, mas eu só faço o que posso – nem mais, nem menos. E quando uma semana de ralação é colocada em questão pelo chefinho? Não tem problema não, meu querido – eu sou Buda, e esses assuntos mundanos e materiais me enchem de tédio. Eu aqui me perguntando como capturar a luz das estrelas e você cobrando, cobrando... Francamente. Chefes não têm como ser Buda.

Buda não anda: flutua. E eu, modéstia à parte, quase vôo. Se ninguém me segura, vou subindo que nem balão de gás hélio. Buda não come: ingere. Não sinto fome, não sinto sede; como e bebo pelo prazer de beber e comer. Eu aconselho a todos: virem Buda. Mesmo que não dure pra sempre (e não dura mesmo, pelo amor de Deus), sejam Buda um pouco. Só enxergando o mundo lá de cima é que dá pra ver que a Terra é azul.


sexta-feira, março 07, 2003

 
É foda

Tentando não ser piegas, eu sinto falta de acordar ao lado daquelas omoplatas. Sempre achei que omoplatas masculinas são lindas se devidamente desenvolvidas, depois de algum tempo de ralação ou um mínimo de flexões diárias. As tais omoplatas eram resultado das tais flexões diárias. E eu, deitada de lado, encarando as omoplatas, as linhas das costas e o abismo dos ombros, eu achava que encarava um muro enorme – não dava pra ver o outro lado. Eu olhava aquele muro e perguntava baixinho: tá acordado? E se não estava, eu pulava da cama por cima daquelas costas e assim acordava a casa inteira.

Também sinto falta de algumas piadas bobas. Eu tento aplicar os mesmos golpes em outras pessoas, mas não é a mesma coisa: nem todo mundo entende do que eu estou falando; ficam olhando com aquela cara de “por acaso você é retardada” quando eu tento fazer o outro cair no conto do “ih, tem uma coisa suja aqui na sua blusa” e quando a pessoa olha pra baixo, eu levanto a mão pelo rosto dela. Teoricamente, ela teria que ficar com cara de tacho. Mas nem todo mundo fica com cara de tacho, e aí eu é que assumo a tal expressão – eu e o tacho, irmãos.

Mas devo admitir que algumas vezes respiro aliviada. Posso aparecer às 4 da manhã na praia e encontrar amigos e azarar meninos bonitinhos e não ficar com absolutamente ninguém só pra não quebrar o clima de “de repente um dia rola”. Eu gosto de encontrar gente e não ter que ser babá de marmanjo, gosto de ficar vagando pelo Rio de madrugada, contrariando todas as precauções do meu pai, da minha avó e do meu papagaio, gosto de chegar na praia às 4 da manhã e encontrar amigos.

Mas, enfim, minha balança anda com defeito, puxando mais para um lado que para outro, e algumas lembranças ficam rosas e outras preto e brancas, e enquanto eu não recuperar a cor dos meus dias, enquanto eu não voltar ao normal e sorrir pra todo mundo e todos os homens acharem que eu tô dando mole – mas não estou dando mole não, estou apenas sorrindo – enquanto eu não voltar a ser eu mesma, vou sentir falta. Muita falta.

 
Órgãos

Tenho um estômago circense. Basta que o inesperado se manifeste que lá está ele, dando saltos mortais na minha barriga. Tirando a minha fome, fazendo a minha respiração ficar curta e pesada, me levando a voltar aos Malboros Light que me fizeram companhia por tanto tempo. Não é fácil ter um estômago artista.

Tenho um cérebro que não cala a boca um segundo sequer. Fico ouvindo sua matraca sussurrando em meus ouvidos abobrinhas que deveriam ter sido enterradas há muito tempo. Mas nada faz o meu cérebro segurar a língua e parar de enviar mensagens. Não é fácil ter um cérebro comunicador.

Tenho um coração showman. E, quando saio na rua, fica impossível enxergar um palmo à frente porque ele, o coração, se coloca diante do meu nariz e me impossibilita de ver o resto do mundo. Meu coração não admite que eu olhe pros lados: ele quer cem por cento de atenção. Não é fácil ter um coração.

Mas o pior de tudo é ter que juntar no mesmo saco o estômago circense, o cérebro matraca e o coração showman. Assim não há razão que resista, e o meu futuro, certamente, é jogar futebol com a galera do Pinel: quando apita a bola, cada um pra um lado, cigarro na boca e olhos pro céu. Finalmente alheios a seus órgãos rebeldes.


quinta-feira, março 06, 2003

 
Eu e o caos

Eu ouço sempre um milhão de conselhos. Devo ser uma pessoa gritantemente caótica – seja na maneira de (não) pentear os cabelos, como se tivesse acabado de andar de moto sem capacete, ou no modo como as minhas roupas, às vezes, parecem menores ou maiores que o meu número, ou na minha falta de capacidade de decidir onde iria passar o carnaval desse ano. Vai ver é isso mesmo, sou filha do caos. Falando assim até parece bonito, “filha do caos”, lembrando uma pessoa sem amarras, sem limites, livre pra voar. Rá. Eu adoraria acordar de manhã com os cabelos lisos e arrumados, adoraria não suar no calor (juro que vi uma menina que não espirrou uma única gota de suor em sua blusa branca, em plenos quarenta graus de Fluminense x S. Caetano no Maracanã). Eu adoraria. Mas, sei lá por quais tortuosos e esquisitos caminhos da vida, eu virei isso mesmo, complicada, enrolada e indecisa.

Acaba que atraio gente bem resolvida. Gente que dá, sem eu pedir, mil conselhos de bem viver. Eles dizem: “seja você mesma”, como se eu tivesse a mínima idéia de quem eu sou! Será que é fácil ser eu mesma, se eu mudo de comportamento a cada lua e a cada mudança de umidade do ar: hoje, confusa, amanhã, poderosa, depois, menina tímida. Sei lá quem eu sou. Alguém sabe quem é?

Ou então, dizem assim: “projete um objetivo e trace um caminho direto até ele”. Nem comento que meu objetivo já mudou um milhão de vezes nos últimos anos. Já quis ser repórter de jornal, já quis casar, já não quis casar, já quis chutar o balde e viajar. Já quis o mundo inteiro, e continuo querendo, mas de outra forma: pra mim, filha do caos, o mundo é mutante, é gasoso, é facilmente perdido em buracos negros. Se eu disser um dia que amo alguém, por favor, não acreditem. Eu acreditarei, e posso até me jogar na linha do trem por esse amor. Mas, se sobreviver mais uma semana, eu vou rir demais de toda tragédia, eu viro comédia e ponto. Bruna: ame-a ou deixe-a, e o último que sair por favor apague a luz.

 
Um luxo

Descobri, através de comentário postado aqui por Misses P., que estou linkada no Portal Literal, ao lado de um monte de gente legal. Não faço a mínima idéia de como fui parar lá naquela lista vipíssima. Mas, já que estou, legal. O lance é aproveitar e sonhar com a fama.

quarta-feira, março 05, 2003

 
Colombina e Pierrot

Ah, o carnaval da Lapa...

Ela já tinha desistido dessa história de beijo na boca de carnaval, quando ele chegou e cantou no ritmo do chorinho: “Esses seu cachos que eu me amarro demais...” Ela achou graça e riu, e ele viu nisso uma continuação para o seu samba: “E esse sorriso me arrasa.” E então perguntou o nome dela. Ela disse. Ele se apresentou dizendo que se chamava Pablo e lhe pediu mais um sorriso. Ela disse que só queria sambar (mas disse sorrindo) e ele a abraçou e dançou com ela de rosto colado. As pessoas mais próximas acompanhavam os movimentos de dança dela e de conquista dele, e as primeiras apostas já eram feitas. A grande maioria dizia que dali iriam sair de mãos dadas, e colocaram cinqüentinha no bolo. Mas ela não sabia quanta coisa estava em jogo. Se liberou do abraço de Pablo e, pedindo desculpas, foi dar uma volta. Ele ficou sozinho, inconsolável, acompanhando a figura dela desaparecendo aos poucos, se misturando na massa de gente que cantava e dançava.

O que ele não sabia – e nem poderia imaginar- é que ela tinha um trauma de carnaval. Um trauma que tinha começado ali mesmo, embaixo dos Arcos, onde aprendeu a sambar e a beber pinga com mel de saquinho. Era um trauma tão grande e tão forte que ela não gostava de se lembrar, mas que voltava toda vez que ela escutava Nelson Sargento e Velha Guarda da Portela. E olha que ela quase nunca ouvia isso, americanizada que era e ligada em guitarras e mixers, mas de vez em quando rendida aos prazeres de ser brasileira. E ele, tadinho, nem sonhava em saber que a dama dos cachos era triste lá no fundo, e que se escondia por trás da tristeza dizendo que era uma proteção, sem entender que, desse modo, ela só se afundava no seu coração impenetrável.

Ele não sabia, mas sabia o seguinte: que era carnaval e que a luta continua, companheiro. Assim que a menina desapareceu, ele se virou pro lado e viu uma morena linda, perfeita, cheia de ginga. E com a morena conseguiu aconchego e carinhos, que é o que a gente precisa. A dama dos cachos ganhou, de outro pierrot apaixonado, um número de telefone que ela deixou ali mesmo, em cima da mesa, e ainda uma declaração de amor etílica de um trapezista que encarava um daqueles churrasquinhos no espeto. Chegou a reencontrar Pablo, que choramingou em seu ombro: “ah, mas eu queria taaaanto te dar um beijo...” e ela só respondeu que ele estava impossível, e se liberou de seus braços, quase correndo, querendo ir embora. Quantos corações não terão sido despedaçados nesse carnaval.

Atenç?o: isto n?o é um di?rio//// Pesando: 55 Kg.// Gastando: com nada. Os amigos pagam pra mim :)/// Pensando: Sobre a muito bem vinda leveza do ser./// Lendo: CRIME E CASTIGO, Dostoievski e TR?PICO DE C?NCER, de Henry Miller AVISO!!!!!!!! Agora estou em www.mulherzinhagirlie.blogspot.com Até que alguma boa alma do Blogger conserte as minhas atualizaç?es. APARE?AM POR L?!!!

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